sábado, 4 de dezembro de 2010

Coelho bota ovo?

A questão surgiu quando fiz uma pergunta retórica, mas como sempre, valeu a zuação. Porém vou provar fisicamente que coelho bota ovo.

Biólogo
O coelho não bota ovo, porque ele pertence à classe dos mamíferos. Os animais das classes das aves e alguns répteis botam ovo. Portanto é inadmissível e inconcebível uma questão como essa.

Matemático
Se você dividir o número total de coelhos existentes na Terra pelo número de coelhos de botaram e botam ovos, e esse número for diferente de algo indeterminado, haverá coelhos que botam ovos.

Filósofo
A questão é o que é um coelho? O que é um ovo? São apenas nomes, coelho e ovo. É tudo uma representação de figura de linguagem. Se as aves fossem coelhos essa indagação não estaria errada, afinal o que é uma ave?

Físico
A principio ele acharia a questão ridícula. Depois ele pensaria algo a respeito, e passado algum tempo e algumas integrais, ele teria a brilhante dedução: “Seja um coelho esférico no vácuo e sem pelo..., portanto o esse "coelho" pode sim botar ovo”.

Tudo é uma questão de ponto de vista. Até quando a pergunta é uma retórica. Ainda mais se tratando de que a conversa era sobre Páscoa, ovos de chocolate e o animal símbolo da festa e da discórdia, o coelho.

O alarde da NASA

“A NASA encontrou vida extra-terrestre”; “A NASA encontro água no planeta X”; A NASA encontrou petróleo no “pré-sal” de Marte”.

Piadas a parte, essa semana a Agência Nacional Americana, NASA, causou frisson na população mundial ao declarar que tinha feito uma descoberta que mudaria os conceitos em astrobiologia.

Isso bastou para que várias pessoas ao redor do mundo levantassem a tese de vida extra-terrestre, e as mais bizarras teorias, tentando descobrir o mistério que a NASA tinha feito.

Na quinta-feira, 02/12/2010, enfim a Agência se pronunciou sobre o fato ocorrido. Eis a descoberta: Em um lago na Califórnia, com grande concentração salina, foi encontrada uma bactéria, da Terra mesmo, e não do espaço, que em sua constituição biológica, apresentava o elemento químico Arsênio, em substituição ao Fósforo. Os seres vivos têm em sua constituição os seguintes elementos: Carbono, Hidrogênio, Oxigênio, Nitrogênio, Fósforo e Enxofre, o famoso CHONPS. Como nesse lago não havia o elemento fósforo, essa bactéria se utilizou do Arsênio, que havia em grande abundância, e é prejudicial para os seres vivos.

Porque essa descoberta causou tanto alarde? Isso abre uma nova perspectiva para buscar vestígios de vida no universo. O que impede de se formar cadeias de Silício, Germânio, que são da mesma família do Carbono?

Com certeza os parâmetros de busca por vida fora da Terra mudarão. Só nos resta esperar se encontrarão algo ou se continuaremos nesta “solidão universal”.

Nota do mês

Não. Eu não morri

Não. O blog não foi roubado

Sim. Continuarei postando

Só pra verem como estou tentando voltar, hpje serão três textos postados.

O que você está lendo?

A pergunta é simples. O que vocês esta lendo? É claro que nem sempre é possível manter uma leitura com freqüência, mas sempre devemos ter um livro de cabeceira, uma expressão um pouco arcaica, já que não se fazem camas com cabeceiras, mas isso é outro assunto, sem importância alguma.

A leitura é um prato cheio para nossa imaginação, além de aprimorar as técnicas de fala e de escrita. O hábito da leitura nos faz criar situações, agir por impulso. Nenhuma imagem nos é dada, não se tem algo pronto. É um universo paralelo...

Cito aqui alguns livros, com um breve resumo, que certamente mexerão com o imaginário do leitor. Divirta-se se forem capazes.


1.Cem Anos de Solidão – Gabriel Garcia Márquez – A cidade de Macondo estava formada, a história da família fundadora da cidade, também, e com ela toda a desgraça de um povo. Onde fica Macondo? – Macondo fica aqui e ali. Nosso ponto pacífico, nossa linhagem de solidão. Pode ser seu quarto, pode ser que não. É lugar grande, fora do mapa. Ache-me aqui quando quiser. Sente-se, estique as pernas e me fale de felicidade.Amaranta Buendia

2.O Livro dos Abraços – Eduardo Galeano – Um homem da aldeia de Negua, no litoral da Colombia, conseguiu subir aos céus. Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas. — O mundo e isso — revelou —. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas. Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que e impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

3.Persépolis – Marjani Satrapi – Quando surge essa palavra é difícil associar ao que ela significa. O que é Persépolis? Essa é a história de um país e um povo que lutavam pela queda do império e a ascensão de uma nova ordem política, a república. Esse país é o Irã, região onde se situava a Pérsia, cuja capital era a cidade de Persépolis. O período é o final da década de 70. e a história de um povo que era livre

4.Ensaio Sobre a Cegueira / Ensaio Sobre a Lucidez – José Saramago – “Estou cego” – disse o homem. Diferente da outra cegueira, a cegueira negra, das trevas, essa era branca e ninguém sabia como explicar. Somente uma pessoa, uma mulher consegue ver aquele novo mundo. “Olhos para que? Olhos Para quem? Vê o que queres ver, Enxerga o que não se pode ver”. Agora imagine o caos desse mesmo país que a cegueira atacou, quando todos os moradores decidem se ao menos um complô geral, que votariam branco por conta própria. “Uivemos” – disse o cão, retirado do livro das vozes

5.As Intermitências da Morte – José Saramago – “...e foi assim que, num determinado país, a morte resolveu que não trabalharia mais ali. Todas as pessoas daquele miserável lugar estavam fardadas a eternidade, não tinham mais a recompensa do sono eterno.”

6.Quando Nietzsche Chorou – Irvin Yalom – final do século XVIII, o alvorecer da psicanálise, agora coloque Nietzsche no divã. Uma história de ficção, mas que podia muito bem ter acontecido. A filosofia Nietzcheniana e o surgimento de um novo “profeta”.

7.O Guia do Mochileiro das Galáxias – Douglas Adams – imagine fazer uma viagem pela galáxia, conhecer outros planetas e outras formas de vida. Além de ser um livro esplêndido, que faz refletir sobre esses temas, que tanto perturbam os sonos, de nós, terráqueos pensantes, é ainda uma crítica a sociedade de modo geral. O guia é um coleção de 5 livros que vale muito a pena ter, com leitura fácil e de alcance de todos os públicos.


Uma vez que conhecimento é adquirido, não se perde jamais. É a única coisa que nos acompanha fielmente pro resto da vida. É uma história sem fim...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Adoniran Barbosa - O centenário de um gênio

Como não dedicar um post ao homem que criou o samba paulista.

Adoniran Barbosa ou João Rubinato. Uma vez perguntado porque ele havia trocado o nome, este disse, "já viu alguem fomoso com o nome Rubinato?"

Figura emblemática, que cantou durante sua vida o bairro do bixiga, da cidade de São Paulo. Descendente de italianos, nasceu em valinhos no ano de 1910 aos 6 de agosto, e morreu em São Paulo no dia 23 de novembro de 1982.

Foi cantor, compositor, ator e humorista. Participou de filmes do Mazzaropi. Cantou samba e fez parte do trio paulistano Demônios da Garoa.

Em sua homenagem, foi criado uma estátua sua e colocada em um dos marcos da cidade de São Paulo, o Mercado Municipal.

Falou e cantou a língua do povo. Misturou o sotaque caipira com o italiano e o paulistano. Transformou isso em samba, e samba como muitos poucos fizeram.

Trem das onze
http://www.youtube.com/watch?v=ceBdGz3eTFg&feature=player_embedded

Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora as onze horas
Só amanhã de manhã.
Além disso mulher
Tem outra coisa,
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar,
Sou filho único
Tenho minha casa para olhar
E eu não posso ficar.

Saudosa Maloca
http://www.youtube.com/watch?v=Uijf_Ge8aPI&feature=player_embedded

Si o senhor não está lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais, um dia
Nem nóis nem pode se alembrá
Veio os homi cas ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.

Samba do Arnesto
http://www.youtube.com/watch?v=plOezZ6936Y&feature=player_embedded 

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever"
Arnesto

Tiro ao Álvaro
http://www.youtube.com/watch?v=ACg4OxVDr_w&feature=player_embedded

De tanto levar frechada do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê?
Táubua de tiro ao álvaro
Não tem mais onde furar

Teu olhar mata mais do que bala de carabina
Que veneno e estriquinina
que peixeira de baiano
Teu olhar mata mais que atropelamento de automóver
Mata mais que bala de revórver

Um samba no Bixiga
http://www.youtube.com/watch?v=Ea5nMXIRxQM&feature=player_embedded

Domingo nós fumo num samba no bexiga
Na rua major, na casa do nicola
A mesa não deu conta
Saiu uma baita duma briga
Era só pizza que avuava junto com as braxola

Nóis era estranho no lugar
E não quisemo se meter
Não fumos lá pra briga, nós fumo lá pra come
Na hora "h" se enfiemo de baixo da mesa
Fiquemo ali, que beleza vendo a nicola briga
Dali a pouco escutemo a patrulha chegá
E o sargento oliveira falá

Num tem importância
Foi chamada as ambulância
Carma pessoal,
A situação aqui está muito cínica
Os mais pior vai pras clínica

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ataulfo Alves

Para preservar a história da nossa música popular brasileira.

Ataulfo Alves de Souza, um dos maiores compositores de samba. Nascido em Miraí, no dia 2 de maio de 1909 e falecido no Rio de Janeiro, no dia 20 de abril de 1969.

Abaixo um pouco da sua vasta obra. Apreciemos sem moderação:

Atire a primeira pedra 
http://www.youtube.com/watch?v=v88Ee0yXIFs&feature=player_embedded

Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai ai ai
Aquele não sofreu por amor

Eu sei que vão censurar
O meu proceder
Eu sei, mulher,
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir

Laranja Madura
http://www.youtube.com/watch?v=5TzYs-R9B-Y&feature=player_embedded

Voce diz que me da casa e comida
Boa vida e dinheiro prá gastar
O que é que há, minha gente o que é que há
Tanta bondade que me faz desconfiar

Laranja madura na beira da estrada
Tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé

Santo que vê muita esmola na sua sacola
Desconfia e não faz milagres não
Gosto de Maria Rosa mas quem me dá prosa é Rosa Maria
Vejam só que confusão

Laranja madura na beira da estrada
Tá bichada Zé ou tem marimbondo no pé

Leva meu samba
http://www.youtube.com/watch?v=-jwBpmGLauI&feature=player_embedded

Leva meu samba
Meu mensageiro
Este recado
para meu amor primeiro

Vai dizer que ela é
A razão dos meus "ais"
Não, não posso mais!

Eu que pensava
Que podia lhe esquecer
Mas qual o que
Aumentou meu sofrer
Falou mais alto
No meu peito uma saudade
Mas para o caso não há força de vontade
Aquele samba
Foi pra ver se comovia
O seu coraçao
Onde dizia:
Vim buscar o meu perdão!

Na cadência do samba
http://www.youtube.com/watch?v=a9ujINDeTBk&feature=player_embedded

Sei que vou morrer não sei o dia
Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer não sei a hora
Levarei saudades da Aurora

Eu quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba

Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
Diz o dito popular
Morre o homem, fica a fama

Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba

Você passa eu acho graça
http://www.youtube.com/watch?v=wyD5N9BHvQA&feature=player_embedded

Quis você pra meu amor
Mas voce não me entendeu
Quis fazer voce a flor
De um jardim somente meu
Quis lhe dar toda ternura
Que havia dentro em mim
Voce foi a criatura
Que me fez tão triste assim

E agora
Voce passa eu acho graça
Nessa vida tudo passa
E voce também passou
Entre as flores
Voce era a mais bela
Minha rosa amarela
Que desfolhou perdeu a cor.

Tanta volta o mundo dá
Neese mudo eu já rodei
Voltei ao mesmo lugar
Onde um dia eu encontrei
Minha musa miha lira
Minha doce inspiração
Seu amor foi a mentira
Que quebrou meu violão

E agora
Voce passa eu acho graça
Nessa vida tudo passa
E voce também passou
Entre as flores
Voce era a mais bela
Minha rosa amarela
Que desfolhou perdeu a cor.

Seu jogo é carta marcada
Me enganei não sei porque
Sem saber que era nada
Fiz meu tudo de você
Pra voce fui aventura
Você foi minha ilusão
Nosso amor foi uma jura
Que morreu sem oração

E agora
Voce passa eu acho graça
Nessa vida tudo passa
E voce também passou
Entre as flores
Voce era a mais bela
Minha rosa amarela
Que desfolhou perdeu a cor.

Ai que saudades da Amélia
http://www.youtube.com/watch?v=gRciNzm4PYY&feature=player_embedded

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu deus, que saudade da amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Quando me via contrariado
Dizia: "meu filho, o que se há de fazer!"
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O dia que poucos se lembram

Tá certo que já faz 10 dias desse fatídico dia, mas mesmo assim vale o registro. Estive esperando as palavras e o momento certo pra fazer esse texto.

15/10, uma data pouco lembrada, o dia do professor. Esse profissional que ajuda na formação de todas as profissões deste mundo, e mesmo assim uma classe desvalorizada.

Dos mais "chatos" aos "amigos de turma", todos merecem nosso respeito, pois um dia poderemos ser um professor, e passaremos pelas mesmas humilhações, provocações e provações.

Duas imagens que valem mais que 1000 palavras.


Polícia invade USP a mando de governador de São Paulo, leia-se José Serra
http://www.youtube.com/watch?v=DSgoXlmufD4

Tem gente que "invade" terras abandonadas para fazer universidades, tem outros que invadem universidades para fazer terras abandonadas

domingo, 17 de outubro de 2010

Descriminalização do Aborto

Por Samantha Buglione, Universia - 31/08/2005


Descriminalizar o aborto não significa promover o aborto, mas significa perceber que a via penal não é a melhor forma de tratar a questão. Para compreender o que significa sair da via penal um bom exemplo é o adultério. O adultério deixou de ser crime este ano no Brasil. A sua descriminalização não implica no seu aceite moral ou que a sociedade brasileira passou incentivá-lo, ou, ainda, que com a descriminalização, o numero de adultérios irá aumentar. O aborto, ao contrário do adultério, sempre será um tema limite. Causa polêmicas apaixonadas por lidar com questões delicadas como vida, morte, pessoa e humanidade. No entanto, tem incríveis semelhanças com o adultério, uma delas é o fato de que é uma prática, apesar de condenada, pouco penalizada.

Se compararmos o número de abortos feitos e o número de processos se encontrará uma enorme discrepância. Nos últimos dez anos não se contabiliza, no Brasil, mais de 15 processos por aborto. A relação com o adultério nos serve, principalmente, para compreender o sentido da descriminalização. Criminalizar o adultério ocorria não apenas para proteger a moral familiar, mas a propriedade. Ou seja, era o meio de garantir que a mulher não teria filhos fora do casamento. Tanto que os casos de adultério feminino que culminavam com a morte da mulher pelo marido ultrajado em regra geravam absolvições com o lamentável argumento de "legítima defesa da honra", que nada mais é do que uma infeliz construção retórica pelo Direito. A intenção em trazer este exemplo é fazer pensar que a criminalização do aborto não ocorre, apenas, para proteger a vida. Se assim fosse, se a vida fosse um bem tão precioso à sociedade brasileira os vários permissivos deveriam ser repensados, como também as nossas práticas cotidianas (principalmente as relacionadas ao meio ambiente). A questão chave é que criminalizar o aborto é uma forma de negar a chamada autonomia reprodutiva da mulher. Um tema igualmente delicado porque implica no reconhecimento de poder para um grupo historicamente compreendido como um sujeito de segunda categoria ou "relativamente incapaz". Além disso, a descriminação que decorre da proibição do aborto é de classe e de geração. Isto é, na sua maioria são mulheres pobres e jovens que realizam o aborto em situações de risco de vida e que podem vir a sofrem possíveis processos.

Mulheres e casais com condições econômicas razoáveis não sofrerão riscos à saúde tampouco o julgamento moral da sociedade, uma vez que isto será feito no silêncio do mundo privado. Apenas para constar: um aborto clandestino feito com segurança varia, em média, de R$ 1.500 a R$ 4.000 reais. Segundo dados do Dossiê Aborto de 2005 esta é a 5ª causa de morte materna no Brasil. Ademais, conforme dados do SUS, são cerca de 238 mil curetagens decorrentes de aborto por ano, cada uma ao custo médio de R$ 125,00; ficaram daí excluídos, por exemplo, os custos com internações por período superior a 24 horas, os gastos com UTI e os recursos necessários ao atendimento de seqüelas decorrentes do aborto clandestino.

Do ponto de vista prático, a criminalização do aborto, além de não proteger a vida do feto, gera a morte de mulheres e gastos desnecessários para o Estado. O que se quer evidenciar neste breve ensaio é que a via penal não é, neste caso, o meio mais eficiente para proteger a vida, ao contrário. Não se está, com a descriminalização do aborto, afirmando que o feto não tem direito à vida, ou que não é pessoa. O fato é que defender a descriminalização significa, em síntese: a) exigir do Estado outros meios para evitar a morte dos fetos, ou seja, políticas preventivas de educação, acesso à saúde, acesso à métodos contraceptivos, minimizar os índices de pobreza e b) que no conflito entre os direitos do feto e da mulher ou do casal o direito à autonomia desta mulher irá prevalecer. Novamente, não se está promovendo a morte, apenas questionando a nossa prática, afinal, se a vida fosse, realmente, um bem absoluto, não poderia, em nenhuma hipótese, ser preterida por outros direitos, interesses ou estado de necessidade. O que se quer afirmar, por fim, é que o crime de aborto promove mais a morte do que a vida e viola um pressuposto básico da dignidade humana: a liberdade. O Brasil, através da Comissão Tripartite, composta por representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e da Sociedade Civil, objetiva pensar, de forma democrática o posicionamento da sociedade brasileira. O risco é que a hipocrisia das nossas práticas se sobrepunha à capacidade de analisar o problema com praticidade e bom senso.

Política e Religião

A nossa sociedade é envolvida por diversas religiões. O mundo inteiro possui crenças. O Estado já esteve atrelado as religiões, em partes da Europa e na América do Sul, o catolicismo, no Oriente, o islamismo, na América do Norte, o protestantismo, e assim por diante.

Com o advento da sociedade moderna a maioria dos Estados se tornaram laicos, as religiões passaram a ter uma parcela menor de contribuição, inclusive no Brasil, um país que teve quase 90% de católicos.

Uma nova corrente filosófica-religiosa se forma atualmente no Brasil, a classe dos evangélicos, mais parecido com fundamentalistas islâmicos. Essa classe é formada pelas igrejas: Universal do Reino de Deus, Renascer, Internacional da Graça de Deus entre outras. E o mais agravante, esse povo está entrando na política.

Quando política se junta com religião, a coisa fede, é igual água e óleo, não se misturam. A Igreja não pode mandar no Estado, a Igreja não pode proibir o que lemos, o que vemos, o que discutimos.

Dois casos absurdos que aconteceram este ano, em pleno século XXI:

1 - erotismo e sexualidade viraram temas vulgares. O governo do estado de São Paulo distribui, nas escolas estaduais, o livro paradidático - "Os cem melhores contos brasileiros do século", entre os autores, desde Machado de Assis, Clarisse Lispector, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Ignácio de Loyola Brandão, entre outros. Este último com o conto "Obscenidades para uma dona de casa". Um conto magnífico de estrutura ímpar, onde o autor abordo a sexualidade da maioria das mulheres donas-de-casas; os desejos, fantasias, o que todos os cidadãos guardam para si. Mas eis que o pai de uma das alunas de um colégio estadual criticou veemente, o fato da escola distribuir um livro com esse "sexo explícito" para as doces e pobres crianças do ensino médio. Há mais pornográfia na teve do que nesse conto que nem de longe é pornográfico.

2 - a proibição do aborto. no Brasil, o aborto é uma questão gravíssima de saúde pública. 31% das grávidas no Brasil praticam aborto. Até que ponto essa prática é aceitável? Onde começa a vida? Vários assuntos envolvem esse tema, mas que deveria haver uma descriminalização da prática, isso deveria. Agora que esse tema não deveria ter se tornado o assunto de debate eleitoral, está mais que evidente.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Como acabar com um candidato a deputado federal, sutilmente

Retirado da Folha.com
Fernando Gallo

"Suellem Aline Mendes Silva, também Mulher Pêra, 23, foi convidada a se candidatar a deputada federal pelo PTN, partido presidido por José de Abreu, dono da antiga rádio Atual, de São Paulo, onde ela recitava poemas de amor.

Assim como Tiririca, a candidata admite: não sabe quais são os ideais e propostas de seu partido.


Mulher Pêra tem como uma das principais bandeiras a diminuição do Imposto de Renda para empresas que contratarem jovens sem experiência. Mas não sabe dizer em quanto o tributo seria reduzido.

Sobre os apoios que tem nessa eleição, cita o marido, que é candidato a deputado estadual, e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que recomendou voto nela.
 
Diz que está pagando a campanha do próprio bolso e fazendo corpo a corpo nas ruas. "Saio de roupinha curta, tudo. É o meu estilo de pedir votos".


Por que você decidiu se candidatar?
Tive o convite do presidente do partido, sr. José de Abreu, e resolvi fazer uma enquete nos bailes funk. Faços shows no Brasil todo. Eu perguntava pra galera se eles tinham em mente alguém pra votar. E ninguém sabia responder. Aí eu perguntei: "e se eu me candidatasse, vocês votariam em mim?" Todo mundo me apoiou. Foi aí que começou.

Você procurou o partido ou foi procurada?
Eles que me procuraram.

Como foi?
Eu já conhecia o sr. José de Abreu há muito tempo. Trabalhei na rádio que ele tinha antigamente, a Rádio Atual. Eu recitava poemas de segunda a sábado. Aí depois a rádio fechou, saí... eu conhecia ela há muito tempo. Fiquei amiga dele.

Você falou que recitava poemas?
Isso, trabalhei um ano e meio na rádio.

Que tipos de poema você recitava?
Poemas de amor.

Você já conhecia o PTN?
Não, não conhecia.

Sabe o que o PTN propõe, como se situa na política?
O PTN é um partido pequeno, tem pouco espaço no horário político, tem pouco tempo pra falar. É só isso o que eu sei do PTN. Só isso que eu posso dizer.

Mas você sabe quais são as bandeiras, a luta política?
Não, não sei.

Você não acha que isso seria importante?
Bom, eu tô focada nos jovens. O meu interesse é nos jovens. Tenho vários projetos para os jovens.

Tem algum projeto concreto que você queira levar para a Câmara?
O incentivo do primeiro emprego pro jovem sem experiência. A empresa que contratar o jovem sem experiência terá diminuído o valor do Imposto de Renda. Tem também internet de graça não só nas escolas, como na casa das pessoas. Seria uma forma de tirar aquelas crianças, aqueles adolescentes que ficam na rua se prostituindo, se drogando... seria uma forma de tirar ela das ruas para ficar em casa estudando. Tem também o centro de profissionalização nos bairros e nas grandes cidades. Assim o jovem pode fazer um curso no seu bairro e escolher a sua profissão.

Então vamos por partes. Com relação ao primeiro emprego, já há algum tempo o governo federal tenta incentivar a contratação de jovens que não tem experiência por meio do programa Primeiro Emprego, mas isso não tem funcionado direito. No que o teu projeto...
[interrompendo] Só que eu penso assim, pra cada jovem sem experiência que a empresa contrata, diminui o valor do Imposto de Renda. Isso daí seria ótimo pra empresa.

E você quer diminuir o imposto em quanto?
Em quanto? Aí, peraí, só um minuto. [Vira-se e pergunta para o marido, o radialista Edy Lopes, candidato a deputado estadual]. Então, por enquanto isso daí eu não tenho concreto, não. Os meus assessores é que vão saber explicar melhor.

Quem te assessora na parte legislativa?
Então, eu tô com o meu marido, que é candidato a deputado estadual. Também tem o apoio do senador Eduardo Suplicy [PT-SP]. Inclusive ele gravou até uma mensagem pra eu colocar no meu site pedindo votos para mim. E é isso daí. Tô aprendendo bastante na política.

Do próprio PTN não tem ninguém que te assessore?
Não. Teve a coligação do PTN com o PT, a gente ainda está conversando sobre isso. Por enquanto não posso te falar nada, mas ainda estamos em conversas. [O período para formação de coligações já terminou e PT e PTN estão coligados no Estado de São Paulo].

Quem financia a sua campanha?
Por enquanto não tem ninguém. Tô tirando tudo do meu bolso. Ainda não coloquei a conta do banco no meu site.

Você tem ideia de quanto já gastou?
Ah, bastante, viu? Muito, muito, muito.

Na sua declaração ao TSE aparece um único bem. Um carro Mercedes de R$ 20 mil reais. Isso tá certo?
Isso mesmo. O único bem que eu tenho é o Mercedes. Teve um problema aí com o carro. Eu dei a Mercedes pra um colaborador vender pra mim e ele sumiu com o carro. Agora tô com um carro emprestado.

Era um carro novo?
A Mercedes é nova.

Você diz que pagou R$ 20 mil nela?
Isso.

O que você conhece sobre a atividade de deputado?
Bom, o deputado faz projetos de lei para o governo.

E o que mais?
Bom, que eu saiba é isso. Sinceramente eu nunca gostei de votar. Porque os candidatos, antes de se elegerem, fazem corpo a corpo, falam várias coisas e quando são eleitos não fazem nada pela gente.

Você pretende ser a Mulher Pêra ou a Suéllem na Câmara?
Se eu for eleita, quem vai estar lá é a Suéllem.

E por que você se candidata como Mulher Pêra?
Porque eu sou conhecida como a Mulher Pêra. Inclusive saio nas ruas pedindo votos, fazendo corpo a corpo, como Mulher Pêra. Saio de roupinha curta, tudo. É o meu estilo de pedir votos. Todo mundo só conhece a Mulher Pêra. Através dela vão conhecer a Suéllem.

Quem são os seu espelhos na política?
A Dilma. Inclusive vou votar nela.

O que você conhece sobre a Dilma?
Ela tem ótimos projetos de jovens. Inclusive, falou até dos centros de profissionalização, que é uma coisa que eu concordo com ela.

Você teme o deboche?
Acho que é pelo fato de ser a Mulher Pêra. Mas eu quero mostrar o meu outro lado. O meu lado de pessoa comum, que é a Suéllem. As pessoas pensam: "ah, ela deve sair de shortinho curto na rua". Não. Eu sou uma pessoa normal como qualquer outra. E eu quero mostrar isso para o Brasil inteiro.

Você está com que idade?
23.

Então você votou na última eleição.
Votei, mas nem lembro. Nunca gostei de votar. Os políticos prometem, falam, falam e nunca cumprem nada.

Então você não sabe em quem votou para deputado na última eleição.
Nem me lembro. Mas eu votei no Lula.

Mais alguma coisa que eu não te perguntei e você gostaria de dizer a respeito da sua candidatura?
Você quer que eu cante o meu jingle? Eu acho ele legal.

Como é?
[cantando] "A comunidade diz, vote na Pêra pra ser feliz! A comunidade diz, vote na Pêra pra ser feliz!" Se você puder colocar, eu agradeço.

Como eu te apresento? Como dançarina?
Ah, pode... Cantora. Eu sou cantora.

domingo, 26 de setembro de 2010

Toy Story 3 - A Arte da fazer animação

Ouso dizer que a trilogia Toy Story é a melhor sequência de animação feita na história da sétima arte.

Uma história que começou em 1995 com o lançamento do primeiro filme produzido pela Disney em parceria com a Pixar. Toy story é um pouco da nossa infância, nos vemos dentro do filme, é a história da criança com seu brinquedo preferido, é a primeira amizade que a gente faz na vida. Andy e Woody se misturam com o nosso cotidiano.

Como não se identificar com uma história dessa? A nossa geração foi modificada com esse filme, nos fomos agraciados com o teor que o filme nos passa.

Eis que em 2010, 15 anos após o primeiro longa metragem, a história é finalizada com o terceiro filme da série. Um presente para os fãs do Toy Story. Mas aqui cabe uma ressalva, de modo algum esse filme não é para criança, esse filme é para a geração do primeiro. Nisso os produtores tiveram uma sacada genial, ou não, para fazer o lançamento dos filmes. Conforme Andy cresce nós também crescemos, e para quem é feito o filme? Para nós, a geração Toy Story.

O filme é esplêndido e ao mesmo tempo triste, da uma sensação de nostalgia, corta a alma, desperta os sentimentos de criança no adulto. Como imaginar o fim de uma história? Como não fazer essa relação de fim com a morte? Por um momento eu achei que eles "morreriam", e pensei: esse será o fim?

Para meu espanto o fim do filme foi totalmente imprevisível e bem elaborado. Confesso que esse filme me tocou na alma, e para quem nunca tinha chorado assistindo um filme, foi uma sensação estranha sentir os olhos marejados nos minutos finais do filme.

Ainda não sei qual será a marca que esse filme deixará na humanidade, mas uma coisa eu tenho certeza absoluta, que ele irá deixar marcas, isso ninguém pode negar!

"Ao infinito e além!"

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Independência do que?

"...Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil"? - 07/07/1822

Já podeis, da Pátria filhos, 
Ver contente a mãe gentil; 
Já raiou a liberdade 
No horizonte do Brasil. 

Brava gente brasileira! 
Longe vá... temor servil: 
Ou ficar a pátria livre 
Ou morrer pelo Brasil. 

Os grilhões que nos forjava 
Da perfídia astuto ardil... 
Houve mão mais poderosa: 
Zombou deles o Brasil. 

Brava gente brasileira! 
Longe vá... temor servil: 
Ou ficar a pátria livre 
Ou morrer pelo Brasil. 

Não temais ímpias falanges, 
Que apresentam face hostil; 
Vossos peitos, vossos braços 
São muralhas do Brasil. 

Brava gente brasileira! 
Longe vá... temor servil: 
Ou ficar a pátria livre 
Ou morrer pelo Brasil. 

Parabéns, ó brasileiro, 
Já, com garbo varonil, 
Do universo entre as nações 
Resplandece a do Brasil. 

Brava gente brasileira! 
Longe vá... temor servil: 
Ou ficar a pátria livre 
Ou morrer pelo Brasil.

sábado, 28 de agosto de 2010

Obscenidades para uma dona-de-casa

Ignácio de Loyola Brandão


Esse texto foi publicado no livro "Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão", e posteriormente publicado em "Os cem melhores contos brasileiros do século".
Este último livro, atualmente, é distribuído gratuitamente, no ensino médio das escolas públicas. Nesta semana que se passou, um pai de uma aluna da rede pública reclamou do teor do conto. O conto é erótico, sensual e não pornografia como alega esse cidadão. Isto se deve a banalização do sexo na sociedade e a falta de conversa entre pais e filhos sobre o assunto sexualidade.

Eis o texto:

Três da tarde ainda, ficava ansiosa. Andava para lá, entrava na cozinha, preparava nescafé. Ligava televisão, desligava, abria o livro. Regava a planta já regada, girava a agenda telefônica, à procura de amiga a quem chamar. Apanhava o litro de martíni, desistia, é estranho beber sozinha às três e meia da tarde. Podem achar que você é alcoólatra. Abria gavetas, arrumava calcinhas e sutiãs arrumados. Fiscalizava as meias do marido, nenhuma precisando remendo. Jamais havia meias em mau estado, ela se esquecia que ele é neurótico por meias, ao menor sinal de esgarçamento, joga fora. Nem dá aos empregados do prédio, atira no lixo.

Quatro horas, vontade de descer, perguntar se o carteiro chegou, às vezes vem mais cedo. Por que há de vir? Melhor esperar, pode despertar desconfiança. Porteiros sempre se metem na vida dos outros, qualquer situação que não pareça normal, ficam de orelha em pé. Então, ele passará a atenção no que o carteiro está trazendo de especial para a mulher do 91 perguntar tanto, com uma cara lambida. Ah, aquela não me engana! Desistiu. Quanto tempo falta para ele chegar? Ela não gostava de coisas fora do normal, instituiu sua vida dentro de um esquema nunca desobedecido, pautara o cotidiano dentro da rotina sem sobressaltos. Senão, seria muito difícil viver. Cada vez que o trem saía da linha, era um sofrimento, ela mergulhava na depressão. Inconsolável, nem pulseiras e brincos, presentes que o marido trazia, atenuavam.

Na fossa, rondava como fera enjaulada, querendo se atirar do nono andar. Que desgraça se armaria. O que não diriam a respeito de sua vida. Iam comentar que foi por um amante. Pelo marido infiel. Encontrariam ligações com alguma mulher, o que provocava nela o maior horror. Não disseram que a desquitada do 56 descia para se encontrar com o manobrista, nos carros da garagem? Apenas por isso não se estatelava alegremente lá embaixo, acabando com tudo.

Quase cinco. E se o carteiro atrasar? Meu deus, faltam dez minutos. Quem sabe ela possa descer, dar uma olhadela na vitrine da butique da esquina, voltar como quem não quer nada, ver se a carta já chegou. O que dirá hoje? Os bicos dos teus seios saltam desses mamilos marrons procurando a minha boca enlouquecida. Ficava excitada só em pensar. A cada dia as cartas ficam mais abusadas, entronas, era alguém que escrevia bem, sabia colocar as coisas. Dia sim, dia não, o carteiro trazia o envelope amarelo, com tarja marrom, papel fino, de bom gosto. Discreto, contrastava com as frases. Que loucura, ela jamais imaginara situações assim, será que existiam? Se o marido, algum dia, tivesse proposto um décimo daquilo, teria pulado da cama, vestido a roupa e voltado para casa da mãe. Que era o único lugar para onde poderia voltar, saíra de casa para se casar. Bem, para falar a verdade, não teria voltado. Porque a mãe iria perguntar, ela teria que responder com honestidade. A mãe diria ao pai, para se desabafar. O pai, por sua vez, deixaria escapar no bar da esquina, entre amigos. E homem, sabe-se como é, é aproveitador, não deixa escapar ocasião de humilhar a mulher, desprezar, pisar em cima.

As amigas da mãe discutiriam o episódio e a condenariam. Aquelas mulheres tinham caras terríveis. Ligou outra vez a tevê, programa feminino ensinando a fazer cerâmica. Lembrou-se que uma das cartas tinha um postal com cenas da vida etrusca, uma sujeira inominável, o homem de pé atrás da mulher, aquela coisa enorme no meio das pernas dela. Como podia ser tão grande? Rasgou em mil pedaços, pôs fogo em cima do cinzeiro, jogou tudo na privada. O que pensavam que ela era? Por que mandavam tais cartas, cheias de palavras que ela não ousava pensar, preferia não conhecer, quanto mais dizer. Uma vez, o marido tinha dito, resfolegante, no seu ouvido, logo depois de casada, minha linda bocetinha. E ela esfriou completamente, ficou dois meses sem gozar.

Nem dizia gozar, usava ter prazer, atingir o orgasmo. Ficou louca da vida no chá de cozinha de uma amiga, as meninas brincando, morriam de rir quando ouviam a palavra orgasmo. Gritavam: como pode uma palavra tão feia para uma coisa tão gostosa? Que grosseria tinha sido aquele chá, a amiga nua no meio da sala, porque tinha perdido no jogo de adivinhação dos presentes. E as outras rindo e comentando tamanhos, posições, jeitos, poses, quantas vezes. Mulher, quando quer, sabe ser pior do que homem. Sim, só que conhecia muitas daquelas amigas, diziam mas não faziam, era tudo da boca para fora. A tua boca engolindo inteiro o meu cacete e o meu creme descendo pela tua garganta, para te lubrificar inteira. Que nojenta foi aquela carta, ela nem acreditava, até encontrou uma palavra engraçada, inominável. Ah, as amigas fingiam, sabia que uma delas era fria, o marido corria como louco atrás de outras, gastava todo o salário nas casas de massagens, em motéis. E aquela carta que ele tinha proposto que se encontrassem uma tarde no motel? Num quarto cheio de espelhos, para que você veja como trepo gostoso em você, enfiando meu pau bem no fundo. Perdeu completamente a vergonha, dizer isso na minha cara, que mulher casada não se sentiria pisada, desgostosa com uma linguagem destas, um desconhecido a julgá-la puta, sem nada a fazer em casa, pronta para sair rumo a motéis de beira de estrada. Para que lado ficam?

Vai ver, um dos amigos de meu marido, homem não pode ver mulher, fica excitado e é capaz de trair o amigo apenas por uma trepada. Vejam o que estou dizendo, trepada, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Caiu em si raciocinando se não seria alguém a mando do próprio marido, para averiguar se ela era acessível a uma cantada. Meu deus, o que digo? Fico transtornada com estas cartas que chegam religiosamente, é até pecado falar em religião, misturar com um assunto deste, escabroso. E se um dia o marido vier mais cedo para casa, apanhar uma das cartas, querer saber? Qual pode ser a reação de um homem de verdade, que se preze, ao ver que a mulher está recebendo bilhetes de um estranho? Que fala em coxas úmidas como a seiva que sai de você e que eu provoquei com meus beijos e com este pau que você suga furiosamente cada vez que nos encontramos, como ontem à noite, em pleno táxi, nem se importou com o chofer que se masturbava. Sua louca, por que está guardando as cartas no fundo daquela cesta? A cesta foi a firma que mandou num antigo natal, com frutas, vinhos, doces, champanhe. A carta dizia deixo champanhe gelada escorrer nos pêlos da tua bocetinha e tomo em baixo com aquele teu gosto bom. Porcaria, deixar champanhe escorrer pelas partes da gente. Claro, não há mal, sou mulher limpa, de banho diário, dois ou três no calor. Fresquinha, cheia de desodorante, lavanda, colônia. Coisa que sempre gostei foi cheirar bem, estar de banho tomado. Sou mulher limpa. No entanto, me pediu na carta: não se esfregue desse jeito, deixe o cheiro natural, é o teu cheiro que quero sentir, porque ele me deixa louco, pau duro. Repete essa palavra que não uso. Nem pau, nem pinto, cacete, caralho, mandioca, pica, piça, piaba, pincel, pimba, pila, careca, bilola, banana, vara, trouxa, trabuco, traíra, teca, sulapa, sarsarugo, seringa, manjuba.

Nenhuma. Expressões baixas. A ele, não se dá nenhuma denominação. Deve ser sentido, não nomeado. Tem gente que adora falar, gritar obscenidades, assim é que se excitam, aposto que procuram nos dicionários, para encontrar o maior número de palavras. Os homens são animais, não sabem curtir o amor gostoso, quieto, tranqüilo, sem gritos, o amor que cai sobre a gente como a lua em noite de junho. Assim eram os versinhos no almanaque que a farmácia deu como brinde, no dia dos namorados. Tirou o disco da Bethânia, comprou um LP só por causa de uma música, Negue. Ouvia até o disco rachar, adorava aquela frase, a boca molhada ainda marcada pelo beijo seu. Boca marcada, corpo manchado com chupadas que deixam marcas pretas na pele. Coisas de amantes. Esse homem da carta deve saber muito. Um atleta sexual. Minha amiga Marjori falou de um artista da televisão. Podia ficar quantas horas quisesse na mulher. Tirava, punha, virava, repunha, revirava, inventava, as mulheres tresloucadas por ele. Onde Marjori achou estas besteiras, ela não conhece ninguém de tevê?

Interessa é que a gente assim se diverte. Se bem que se possa divertir, sem precisar se sujeitar a certas coisas. Dessas que a mulher se vê obrigada, para contentar o marido e ele não vá procurar outras. Que diabo, mulher tem que se impor! Que pensam que somos para nos utilizarem? Como se fôssemos aparelhos de barba, com gilete descartável. Um instrumento prático para o dia-a-dia, com hora certa! Como os homens conseguem fazer barba diariamente, na mesma hora? Nunca mudam. Todos os dias raspando, os gestos eternos. É a impressão que tenho quando entro no banheiro e vejo meu marido fazendo a barba. Há quinze anos, ele começa pelo lado direito, o esquerdo, deixa o queixo para o fim, apara o bigode. Rio muito quando olho o bigode. Não posso esquecer um dia que os pelinhos do bigode me rasparam, ele estava com a cabeça entre as minhas pernas, brincando. Vinha subindo, fechei as pernas, não vou deixar fazer porcarias deste tipo. Quem pensa que sou? Os homens experimentam, se a mulher deixa, vão dizer que sou da vida. Puta, dizem puta, mas é palavra que me desagrada. E o bigode faz cócegas, ri, ele achou que eu tinha gostado, quis tentar de novo, tive de ser franca, desagradável. Ele ficou mole, inteirinho, durante mais de duas semanas nada aconteceu. O que é um alívio para a mulher. Quando não acontece é feriado, férias. Por que os homens não tiram férias coletivas? Ia ser tão bom para as mulheres, nenhum incômodo, nada de estar se sujeitando. Na carta de anteontem ele comentava o tamanho de sua língua, que tem ponta afiada e uma velocidade de não sei quantas rotações por segundo. Esse homem tem senso de humor. É importante que uma pessoa brinque, saiba fazer rir. O que ele vai fazer com uma língua a tantas mil rotações? Emprestar ao dentista para obturar dentes? Outra coisa engraçada que a carta falou, só que esta é uma outra carta, chegou no mês passado, num papel azul bonito: queria me ver de meias pretas e ligas. Ridículo, mulher nua de pé no meio do quarto, com meias pretas e ligas. Nem pelada nem vestida. E se eu pedisse a ele que ficasse de meias e ligas? Arranjava uma daquelas ligas antigas, que meu avô usava e deixava o homem pelado com meias. Igual fazer amor de chinelos. Outro dia, estava vendo o programa do Sílvio Santos, no domingo. Acho o domingo muito chato, sem ter o que fazer, as crianças vão patinar, meu marido passa a manhã nos campos de várzeas, depois almoça, cochila, e vai fazer jockeyterapia. Ligo a televisão, porque o programa Sílvio Santos tem quadros muito engraçados. Como o dos casais que respondem perguntas, mostrando que se conhecem. O Sílvio Santos perguntou aos casais se havia alguma coisa que o homem tivesse tentado fazer e a mulher não topou. Dois responderam que elas topavam tudo. Dois disseram que não, que a mulher não aceitava sugestões, nem achava legal novidade. A que não topava era morena, rosto bonito, lábio cheio e dentes brancos, sorridente, tinha cara de quem topava tudo e era exatamente a que não. A mulher franzina, de cabelos escorridos, boca murcha, abriu os olhos desse tamanho e respondeu que não havia nada que ele quisesse que ela não fizesse e a cara dele mostrava que realmente estavam numa boa. Parece que iam sair do programa e se comer.

Como se pode ir a público e falar desse jeito, sem constrangimento, com a cara lavada, deixando todo mundo saber como somos, sem nenhum respeito? Há que se ter compostura. Ouvi esta palavra a vida inteira, e por isso levo uma vida decente, não tenho do que me envergonhar, posso me olhar no espelho, sou limpa por dentro e por fora. Talvez por isso me lave tanto, para me igualar, juro que conservo a mesma pureza de menina encantada com a vida. Aliás, a vida não me desiludiu em nada. Tive pequenos aborrecimentos e problemas, nunca grandes desilusões e nenhum fracasso. Posso me considerar realizada, portanto satisfeita, sem invejas, rancores. Sou uma das mulheres que as famílias admiram neste prédio. Uma casa confortável, bem decorada, qualquer uma destas revistas de onde tiro as idéias podia vir aqui e fotografar, não faria vergonha. Nossa, cinco e meia, se não voar, meu marido chega, o carteiro entrega o envelope a ele, vai ser um sururu. Prestem atenção, veja a audácia do sujo, me escrevendo, semana passada. (Disse que faz três meses que recebo as cartas? Se disse, me desculpem, ando transtornada com elas, não sei mais o que fazer de minha vida, penso que numa hora acabo me desquitando, indo embora, não suporto esta casa, o meu marido sempre na casa de massagens e na várzea, esses filhos com patins, skates, enchendo álbuns de figurinhas e comendo como loucos.) Semana passada o maluco me escreveu: Queria te ver no sururu, ia te pôr de pé no meio do salão e enfiar minha pica dura como pedra bem no meio da tua racha melada, te fodendo muito, fazendo você gritar quero mais, quero tudo, quero que todo mundo nesta sala me enterre o cacete.

Tive vontade de rasgar tal petulância, um pavor. Sem saber o que fazer, fiquei imobilizada, me deu uma paralisia, procurei imaginar que depois de estar em pé no meio da sala recebendo um homem dentro de mim, na frente de todos, não me sobraria muito na vida. Era me atirar no fogão e ligar o gás. Entrei em pânico quando senti que as pessoas poderiam me aplaudir, gritando bravo, bravo, bis, e sairiam dizendo para todo mundo: "sabe quem fode como ninguém? A rainha das fodas?" Eu. Seria a rainha, miss, me chamariam para todas as festas. Simplesmente para me ver fodendo, não pela amizade, carinho que possam ter por mim, mas porque eu satisfaria os caprichos e as fantasias deles. Situações horrendas, humilhantes, desprezíveis para mulher que tem um bom marido, filhos na escola, uma casa num prédio excelente, dois carros.

Apanho a carta, como quem não quer nada, olho distraidamente o destinatário, agora mudou o envelope, enfio no bolso, com naturalidade, e caminho até a rua, me dirijo para os lados do supermercado, trêmula, sem poder andar direito, perna toda molhada. Fico tão ansiosa, deve ser uma doença que me molho toda, o suco desce pelas pernas, tenho medo que escorra pelas canelas e vejam. Preciso voltar, desesperada para ler a carta. O que estará dizendo hoje? Comprei puropurê, tenho dezenas de latas de puropurê. Cada vez que desço para apanhar a carta, vou ao supermercado e apanho uma lata de puropurê. O gesto é automático, nem tenho imaginação de ir para outro lado. Por que não compro ervilhas? Todo mundo adora ervilhas em casa. Se meu marido entrar na despensa e enxergar esse carregamento de puropurê vai querer saber o que significa. E quem é que sabe?

É dele mesmo, o meu querido correspondente. Confesso, o meu pavor é me sentir apaixonada por este homem que escreve cruamente. Querer sumir, fugir com ele. Se aparecer não vou agüentar, basta ele tocar este telefone e dizer: "Venha, te espero no supermercado, perto da gôndola do puropurê." Desço correndo, nem faço as malas, nem deixo bilhete. Vamos embora, levando uma garrafa de champanhe, vamos para as festas que ele conhece. Fico louca, nem sei o que digo, tudo delírio, por favor não prestem atenção, nem liguem, não quero trepar com ninguém, adoro meu marido e o que ele faz é bom, gostoso, vou usar meias pretas e ligas para ele, vai gostar, penso que vai ficar louco, o pau endurecido querendo me penetrar. Corto o envelope com a tesoura, cuidadosamente. Amo estas cartas, necessito, se elas pararem vou morrer. Não consigo ler direito na primeira vez, perco tudo, as letras embaralham, somem, vejo o papel em branco. Ouça só o que ele me diz: Te virar de costas, abrir sua bundinha dura, o buraquinho rosa, cuspir no meu pau e te enfiar de uma vez só para ouvir você gritar. Não é coisa para mulher ler, não é coisa decente que se possa falar a uma mulher como eu. Vou mostrar as cartas ao meu marido, vamos à polícia, descobrir, ele tem de parar, acabo louca, acabo mentecapta, me atiro deste nono andar. Releio para ver se está realmente escrito isso, ou se imaginei. Escrito, com todas as palavras que não gosto: pau, bundinha. Tento outra vez, as palavras estão ali, queimando. Fico deitada, lendo, relendo, inquieta, ansiosa para que a carta desapareça, ela é uma visão, não existe e, no entanto, está em minhas mãos, escrita por alguém que não me considera, me humilha, me arrasa.

Agora, escureceu totalmente, não acendo a luz, cochilo um pouco, acordo assustada. E se meu marido chega e me vê com a carta? Dobro, recoloco no envelope. Vou à despensa, jogo a carta na cesta de natal, quero tomar um banho. Hoje é sexta-feira, meu marido chega mais tarde, passa pelo clube para jogar squash. A casa fica tranqüila, peço à empregada que faça omelete, salada, o tempo inteiro é meu. Adoro as segundas, quartas e sextas, ninguém em casa, nunca sei onde estão as crianças, nem me interessa. Porque assim me deito na cama (adolescente, escrevia o meu diário deitada) e posso escrever outra carta. Colocando amanhã, ela me será entregue segunda. O carteiro das cinco traz. Começo a ficar ansiosa de manhã, esperando o momento dele chegar e imaginando o que vai ser de minha vida se parar de receber estas cartas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

22 de Agosto... - Parte 2

Hoje é aniversário de Araraquara - SP.

E como bom filho desta terra não poderia deixar passar em branco.

Pedro José Neto com seus filhos construiu uma capelinha dedicada a São Bento (padroeiro) nos Campos de Aracoara (lugar onde mora a luz do dia, a "Morada do Sol") na região habitada pelos indígenas da tribo Guayanás. Fixando-se nos Campos de Araraquara estabeleceu posse das regiões do Ouro, Rancho Queimado, Cruzes, Lageado, Cambuy, Bonfim e Monte Alegre.

A 22 de agosto de 1817 foi criada a Freguesia de São Bento de Araraquara pela Resolução n° 32 -Reino-Resolução de Consciência e Ordens. A 30 de outubro de 1817, a Freguesia foi elevada à categoria de Distrito,e a 10 de julho de 1832 passou à de Município, o qual foi instalado a 24 de agosto de 1833.

A 20 de abril de 1866 passa à categoria de Comarca pela Lei Provincial n° 61 e a 6 de fevereiro de 1889 é elevada à categoria de Cidade, pela lei provincial de n° 7.

A cidade hoje conta com uma população de 200 mil habitantes. É uma cidade modelo devido ao crescimento organizado e ordenado que sempre teve. Já foi considerada a cidade mais limpas das 3 Américas. Quase 100 % de esgoto tratado e quase 100 % de água tratada nas casas. Também é uma das cidades com mais árvores plantadas.

Araraquara - 193 anos de história e tradição.
Alguns personagens ilustres: Ignácio de Loyola Brandão, Ruth Cardoso (ex-primeira dama do Brasil), Careca (jogador de futebol), Herbert Richers, Romulo Lupo.

22 de Agosto...

Hoje é dia do Folclore brasileiro!

Quem nunca ouviu falar da mula-sem-cabeça, saci-perere, curupira, Mboi-tatá, a Cuca, a sereia do rio, o boto cor-de-rosa entre outros. Personagens de histórias passadas de geração em geração, contada pelos índios e imortalizadas nas obras de Monteiro Lobato.

Um dos principais livros de Monteiro Lobato é o Sítio do Pica-pau Amarelo que virou série de televisão na rede Globo.
Na cidade de Botucatu - SP, há os criadores de saci. Isso na verdade, é uma forma de manter viva esse folclore, essa cultura brasileira. Essa brincadeira encanta gerações, tanto crianças como adultos, e mantém um passado relembrado por todos.

A data foi instituída pelo governo federal em 1965. 
Folclore é o conjunto de todas as tradições, lendas e crenças de um país. O folclore pode ser percebido na alimentação, linguagem, artesanato, religiosidade e vestimentas de uma nação. Segundo a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo I Congresso Brasileiro de Folclore em 1951, "constituem fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular, ou pela imitação".

O folclore é o modo que um povo tem para compreender o mundo em que vive. Conhecendo o folclore de um país, podemos compreender o seu povo. E assim conhecemos, ao mesmo tempo, parte de sua História. Mas para que um certo costume seja realmente considerado folclore, dizem os estudiosos que é preciso que este seja praticado por um grande número de pessoas e que também tenha origem anônima.

Alguns personagens:


MBoitatá
Representada por uma cobra de fogo que protege as matas e os animais e tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do boitatá em cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre".


Boto
Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazônica. Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto.


Curupira
Assim como o boitatá, o curupira também é um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira.


Lobisomem
Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo.


Mãe-D'água
Encontramos na mitologia universal um personagem muito parecido com a mãe-d'água : a sereia. Este personagem tem o corpo metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, consegue encantar os homens e levá-los para o fundo das águas.


Corpo-seco
É uma espécie de assombração que fica assustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria mãe. Após sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que viver como uma alma penada.


Pisadeira
É uma velha de chinelos que aparece nas madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provocando a falta de ar. Dizem que costuma aparecer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio.


Mula-sem-cabeça
Surgido na região interior, conta que uma mulher teve um romance com um padre. Como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira é transformada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelas narinas.


Mãe-de-ouro
Representada por uma bola de fogo que indica os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do Brasil, toma a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e após atrair homens casados, os faz largar suas famílias.


Saci-Pererê
O saci-pererê é representado por um menino negro que tem apenas uma perna. Sempre com seu cachimbo e com um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Oração ao Tempo!

É com o título da música de Caetano Veloso que inicio uma série de posts de filosofia sobre o Tempo

A pergunta intrigante que não quer se calar: Existe Tempo? Com alguns textos científicos publicados na Scientific American Brasil, e com base em teorias da física clássica e da física relativística, será realizada uma abordagem, mesmo que só por brincadeira, passatempo, desse conceito intrínseco nas nossas vidas.

A persistência da Memória - Salvador Dali 1931

Pra começar, uma leitura da música cujo título está no post


"És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...



Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...



Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...



Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...



Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...



De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...



O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...



E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...



Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...



Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo..."

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Um tributo ao mestre Saramago - parte 2

O Fator Deus - José Saramago
Folha de São Paulo, 19/09/2001


"Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá “ver” cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes. Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos  da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, seqüestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.

As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante da tortura, da agônica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova York tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mais limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefação para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez “aqui estou” quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdômen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietnã cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atômicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazistas a vomitar cinzas, daqueles caminhões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse. De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem exceção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, devíamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar. Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os talebanes, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactuado entre a religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gêmeas de Nova York, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela ação dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da história. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o “fator deus”, esse, está presente na vida como se efetivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um Deus, mas o “fator Deus” o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, e não a outra...) a bênção divina. E foi no “fator Deus” em que o Deus islâmico se transformou, que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações. Dir-se-á que um Deus andou a semear ventos e que outro Deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres Deuses sem culpa, foi o “fator Deus”, esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta.

Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiraram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento de não poder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do “fator Deus”. Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar-se."




A respeito da briga Saramago X Igreja, é importante salientar que o escritor sempre se manteve aberto ao diálogo com a instituição católica, várias vezes eles dialogoram o assunto da existência e inexistência de Deus. Pra mim, o que o Saramago mais pregava não era a inexistência de Deus, mas o livre arbítrio que cada cidadão tem pelo direito exercer; O que ele criticava era a forma que a Igreja impunha aos povos a maneira de pensar.

As suas duas obras, O envangelho segundo Jesus Cristo, e Caim, foram duas releituras que ele fez da bíblia. Olha que coisa mágica, ele INTERPRETOU a Bíblia, a sua maneira. Como animais pensantes que somos, o que nos difere dos outros animais, é simplesmente o fato de entender e refletir sobre o mundo que nos cerca. Talvez exista Deus, talvez não exista Deus, mas que eu gostaria de ver a cara de surpreso do Saramago ao chegar no Céu e se deparar com Deus...

Quero deixar claro que respeito tanto os religiosos, os que apenas crêem na existencia de algo superior, e aos que não possuem crença nenhuma, apenas coloquei a minha opinião acerca do assunto.

O que esse mundo precisa é de mais gente como o grande Saramago, pessoas questionadoras, pessoas que vivenciam esse mundo!